O ex-ministro da Justiça Anderson Torres afirmou nesta terça-feira (10), em depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF), que não se lembrava de ter recebido ou tratado da chamada “minuta do golpe”, documento que sugeria a decretação de estado de defesa no país e a prisão de autoridades para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Segundo Torres, a apreensão do documento em sua residência, durante operação da Polícia Federal, foi uma surpresa. Ele afirmou que o conteúdo fazia parte de uma rotina de recebimento de diversos materiais no ministério.
“Na verdade, ministro, não é ‘minuta do golpe’, eu brinco que é a ‘minuta do Google’. Levava duas pastas pra casa, uma com a agenda do dia seguinte e outra com documentos diversos. Eu realmente nem me lembrava dessa minuta. Só recordei quando a PF apreendeu. Foi uma surpresa”, declarou.
Torres disse ainda que o ambiente na Esplanada dos Ministérios, na época, era tomado por rumores e propostas informais.
“Era voz corrente. Recebíamos minutas, ideias e uma série de coisas por WhatsApp, papel… Isso foi parar na minha casa, mas nunca tratei disso com ninguém. Foi uma fatalidade, era pra ter sido destruída há muito tempo”, completou.
O que diz a acusação
De acordo com a Procuradoria-Geral da República (PGR), Torres, durante sua atuação no governo Bolsonaro, teria:
- Replicado narrativas de suposta fraude nas urnas eletrônicas, distorcendo informações da Polícia Federal;
- Atuado para implementar bloqueios da Polícia Rodoviária Federal em estados do Nordeste, com o objetivo de dificultar o acesso de eleitores de Lula às urnas;
- Elaborado documentos para sustentar um plano de golpe de Estado, como a minuta de decreto de estado de defesa encontrada em sua residência.
Além disso, já como secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Anderson Torres é acusado de omissão nas providências para evitar os ataques de 8 de janeiro de 2023 às sedes dos Três Poderes, em Brasília.